A expressão empoderamento feminino ganhou as ruas, a mídia, as redes sociais e os debates. Vem sendo manifestada em forma de protesto, de arte e atitudes. Essa consciência coletiva em busca da equidade de gênero está gerando mudanças no comportamento de ambos os sexos e resultando numa maior autonomia da mulher sobre seu corpo. Embora tenha se tornado uma expressão extremamente recorrente em debates privados e públicos, a tal igualdade entre sexos, no entanto, ainda está muito distante de ser uma realidade concreta.
Mulheres am até duas vezes e meia mais tempo do que os homens cuidando da casa e de parentes, sem receber nada por isso. A ONU Mulheres, programa das Nações Unidas, destacou recentemente que os homens ganham em média 23% mais que as mulheres por trabalhos de igual valor. Em certos segmentos populacionais, como negros vivendo nos Estados Unidos, o índice sobre para 40%. E ainda, mulheres têm 50% menos chances que os homens de ter empregos remunerados em tempo integral. No mundo todo, 62 milhões de meninas não vão à escola. As mulheres representam dois terços dos 758 milhões de adultos analfabetos no mundo.
E essa discrepância fica muito evidente quando falamos de saúde. A participação desigual das mulheres no mercado de trabalho prejudica seu o a tratamentos e terapias. De acordo com levantamento da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a participação das mulheres no mercado de trabalho nas Américas do Sul, Central e do Norte é de apenas 53% nas áreas urbanas, contra 77% para os homens. Soma-se a isso o fato de 79% das mulheres empregadas trabalharem em setores de baixa produtividade, com reduzido o à proteção social. Ou seja, elas são menos empregadas, trabalham mais horas, ganham menores salários, e têm menos garantias para a proteção social em saúde, incluindo taxas mais baixas de pensão e aposentadoria.
Diante de dados concretos e realidade evidente, a saúde da mulher foi escolhida como o tema desse ano a ser destacado em março, mês de conscientização da doença renal e também dos direitos das mulheres.
O número de pacientes com doença renal crônica em estágio terminal está crescendo em todo o mundo. A doença – responsável, em seu estágio mais avançado, pela interrupção do funcionamento do órgão que filtra as toxinas do corpo – já atinge 10% da população, afeta aproximadamente 195 milhões de mulheres e é a oitava principal causa de mortes no sexo feminino; 600 mil por ano. No Brasil, estimativa recente da Sociedade Brasileira de Nefrologia aponta que um em cada dez brasileiros terá algum grau de disfunção renal durante a vida. No estágio avançado da doença/sem diálise, que faz a substituição da função do rim por uma máquina, ou um transplante, não há chance de vida.
Embora acometa homens e mulheres na mesma proporção, os dados indicam que elas têm menos o às terapias. Na principal rede de serviços de diálise do Brasil, que responde pelo tratamento de mais de 4.500 pessoas, os homens são 59% dos pacientes. Sem pensarmos nas terapias mais modernas, de melhor qualidade, a diferença de o fica ainda mais evidente. Recentemente chegou ao Brasil o que já é considerada a principal inovação tecnológica no tratamento da doença renal. Largamente utilizada na Europa, a hemodiafiltração de alto volume (ou HighVolumeHDF®) é a terapia que mais se assemelha ao perfil de eliminação de um rim saudável. No entanto, no principal estudo que demonstrou a superioridade desta terapia, apenas 38% dos que utilizam a HighVolumeHDF® eram mulheres.
Portanto, nós médicos queremos aproveitar a data para chamar atenção para os desafios dessa busca de igualdade. A chance de receber o melhor tratamento para poder viver com qualidade deve ser para todos.
Ana Beatriz Barra é nefrologista e Gerente Médica da Fresenius Medical Care